Itabira: desabafo emocionado de uma profissional de educação

Josiany Rodrigues dos Santos Duarte

 A profissional da educação, detentora de cursos de aprofundamento e formação continuada, Josiany Rodrigues dos Santos Duarte (colaboradora da rede municipal de educação de Itabira) emitiu sua opinião sobre os desafios da profissão, diante da pandemia e as limitações impostas. “Amo a minha profissão e a legítimo com honra e polidez,” ressaltou.

Leia o desabafo:

Acredito que não tardará a acontecer um apagão de profissionais da educação

A princípio, vale ressaltar que o início do ano letivo de 2021 tem sido muito pesado e tenso. Há imposições de todos os lados: Estado e município. A maioria delas está centrada na questão de monitoramento do cumprimento de carga horária e, para isso, temos de preencher dezenas de anexos.

Fora isso, nós, professores e os gestores de escolas, ainda temos que fazer a busca ativa de crianças e famílias que “sumiram do mapa” por motivos diversos, tais como:  falta de equipamentos, como internet e celular; falta de responsabilidade e de compromisso em buscar e em devolver as atividades na escola; dificuldades e doenças na família que as impedem de acompanhar as crianças ao fazerem as atividades e de enviá-las aos professores.

São problemas de várias origens e com muitas peculiaridades em contextos diversos que permeiam a escola.

Além disso, há o excesso de material a ser trabalhado com os alunos. É PET (Plano de Estudo Tutorado) do Estado, mais blocos de atividades de cada conteúdo e mais os livros didáticos (até segunda ordem, será assim no mês de abril!). Tudo isso em suportes parcos para a ação de lecionar! Entre eles, cito o whatsapp.

Tentamos fazer o melhor que podemos com o que temos! Passamos a manhã escrevendo o planejamento (passo a passo) para os pais administrarem orientações aos seus filhos e dando retornos de atividades que nos são enviadas.

No mês de abril, será mais difícil ainda, visto que, com tantos materiais (os citados acima), o trabalho será uma tarefa árdua, tanto para os professores quanto para as famílias.

Há uma incompatibilidade entre os tantos materiais que os alunos terão de fazer e os recursos dos quais dispomos: whatsapp, papel, lápis e borracha. O único recurso de que a maioria das famílias e dos professores dispõe é o whatsapp!

A maior parte dos estudantes das escolas públicas não tem como assistir às aulas remotas via plataformas interativas, como o Google Meet, via Zoom ou via Google Class!

Fico revoltada com essa falta de senso crítico da nossa Secretaria de Educação! Quando os professores serão ouvidos? Afinal, quem põe a mão na massa e mais sofre com essa exigência excessiva somos nós!

Eu quero lecionar! Trocando em miúdos: eu quero dar aulas para os meus alunos! Eu quero intervir nas dificuldades que eles tiverem! Eu quero vibrar com o crescimento do conhecimento deles!

E não estamos conseguindo isso porque os excessos de documentos a serem preenchidos e essa busca ativa nos tomam tempo, energia e recursos. Não concordo com a volta às aulas presenciais sem a vacina, quero deixar isso bem claro!

Mas acredito que, se houver mais foto em um dos materiais citados e no recurso do qual dispomos para lecionar (whatsapp, conforme a realidade da escola em que atuo), poderemos fazer ações efetivamente pedagógicas.

Estamos adoecendo com os excessos e com a frustração por não conseguirmos trabalhar de forma, efetivamente, pedagógica! Sou professora e formei-me para lecionar.

Estou só preenchendo planilhas e mais planilhas para comprovar que as horas de trabalho estão sendo cumpridas. E recebendo as atividades das crianças para fins dessa comprovação.

Para que fique mais claro: a relação entre mim e meus alunos fica a desejar. E é essa relação que concretiza o fazer pedagógico. É ela que garante ao estudante o desenvolvimento das habilidades e das competências necessárias para a construção do saber. E é para essa ação que me preparei e me preparo em meus estudos infindáveis.

A situação só está só piorando! A saúde mental de todos está à beira de um colapso! Professores estressados com tantas demandas, carga horária semanal de trabalho sendo desrespeitada, pais e crianças estressadas com tantas ações a serem cumpridas.

Só há cobranças! Não há mais nada além disso! É um círculo vicioso! E quem sofre são as crianças, as famílias, os professores, os especialistas e os diretores!

Sinceramente, não acredito que as famílias estejam percebendo o que está acontecendo nos bastidores dessa situação. Elas desconhecem as burocracias que nos são exigidas e pelas quais temos sofrido. Portanto, compreendo quando alguns pais dizem que “professores não estão fazendo nada”. Afinal, desconhecimento gera opiniões desse tipo.

Não têm como perceberem que os professores estão, minimamente, próximos de seus filhos porque têm de cumprir com protocolos inócuos que atrapalham ainda mais a tentativa de garantir a aprendizagem dos estudantes.

14 Comments

  1. ELIZABETE FERNANDES DA SILVA MURTINHO Reply

    Parabéns!!!! Disse tudo!!! Muitos já pensam em desistir e outros já o fizeram. Nossa linda profissão está enfrentando dias tristes. Você falou o que precisava ser dito.

  2. Roberta Rocha Beltrame Madureira Reply

    Parabéns Josiane pela fala sincera. Também amo minha profissão. Nós, profissionais da Educação támbem estamos sofrendo e ninguém enxerga isso.
    Além de todos os problemas mencionados ainda tem escola que o professor está acompanhando 2turmas ao mesmo tempo. Coordenador que não pode fazer seu papel porque tem que assumir uma turma devido ainda não terem feito os devidos contratos. Grande ilusão quem acreditou em uma nova gestão. A velha política está mais enraizada do que nunca.

  3. Marisa Reply

    Parabéns Josi, por soltar a voz, por nós professores!! Uma classe sofrida e sem valor. Este apagão citado não demora acontecer. Te admiro muito!

    1. Sandra Nunes Reply

      Parabéns, Josiane! É triste esta realidade. Os professores estão desmotivados justamente por isso. São formulários e formulários e muito trabalho, que não será aproveitado pelos alunos. Será que estão achando que quantidade é sinônimo de qualidade?

  4. Denise de Andrade Félix Reply

    Como mestre em Educação e principalmente professora das redes municipal e estadual, concordo com suas colocações e te parabenizo pela sensatez. Abraços Denise Félix

  5. Silvia Maria da Costa Reply

    Sinto muito prazer em aplaudir sua determinação!! Você tocou no ponto certo, ninguém tem coragem de falar, mais ninguém também quer escutar. Bravíssimo!!!

  6. Andreia De Oliveira Duarte Reply

    Concordo e presencio essa ação mecanizada e nada construtivista desse modelo de educação que se instalou, ou por causa da pandemia teve que ser implantada. Mas, o que percebemos é que, nenhum progresso em prol dos professores e alunos foi feito, nesse 1 ano de ensino remoto para aproxima Los dessa nova realidade .

  7. Nilza Santos Reply

    Que bom que você falou. Estamos muito tristes e cansados com toda situação. Amamos sim essa profissão, mas está desgastante. Queremos saúde para continuarmos a dar o melhor de nós para nossos alunos. Parabéns, e esperamos por melhoras.🙏🙏

  8. Mirelly Mendes Reply

    Josiane, seu desabafo com certeza fala por todos os profissionais que prezam pela educação de qualidade. Todos estamos sendo penalizados, mas os alunos principalmente, os reflexos de tudo isso será visto em um futuro próximo.

  9. MARIANE A C COELHO Reply

    Parabéns pelo texto! Sou filha de professora e há 2 dias fiz uma lista de coisas que deveriam ser fornecidas aos docentes pelo estado e municípios para que o trabalho fosse realizado com as mínimas condições. Querem que hajam registro de tudo o que for feito, mas onde guardar tanto material? Os celulares e computadores próprios já não armazenam uma vírgula (e nem deveriam, pois onde estão os equipamentos corporativos, as contas institucionais para acesso a ferramentas virtuais?) . Deve um professor arrancar do seu bolso recursos pra adquirir dispositivos com mais espaço ou adquirir drives externos ou espaço em nuvem? Exigem gravação de vídeos mas não pensaram em fornecer os equipamentos para tal, menos ainda capacitação. Alguém tem noção do que mais é necessário para lecionar sob essas condições? Espaço físico adequado, material impresso, câmeras, tripé, etc, tudo do próprio bolso. Tão pouco pensaram na realidade dos alunos. Muitos têm um celular por família e que as vezes já estão ultrapassados, outros tantos não possuem conectividade e muito menos comida. Venho desde o início ajudando minha mãe no que posso a respeito das novas tecnologias, mas penso naqueles profissionais que não tem quem os ajude. A vejo pendente do seu trabalho desde a hora que se levanta até a hora de dormir, pois muitos pais trabalham durante o dia e não podem acompanhar seus filhos enquanto a professora está disponível “oficialmente”, então, depois do horário ela segue atendendo a estes alunos que só podem realizar suas atividades às 22h por exemplo, que é quando seus pais chegam com o celular. Vejo uma situação pra inglês ver devido ao pouco esforço efetivo por parte das secretarias municipais e estaduais de educação, que só sabem cobrar e pressionar por “eficiência”. Eficiência em quê e de quem? Me parece que o aprendizado dos alunos é o que menos importa. Ao não valorizarmos os professores, estamos fadando ao fracasso o futuro das novas gerações.

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