O número de registros de inadimplentes subiu 2,3% entre os meses de fevereiro e março na comparação dos dados dessazonalizados da Boa Vista, que abrangem todo território nacional. Após uma variação mais tímida na aferição anterior, de 0,2% na mesma base de comparação, o número de registros voltou a subir de forma mais expressiva e encerrou o 1º trimestre deste ano acima de 5% a frente do resultado observado no 4º trimestre de 2022. Na série de dados originais o aumento na comparação interanual ainda é forte, em março ele foi de 8,4%, mas ele diminuiu em relação aos resultados anteriores, de 25,8% em fevereiro e de 27,7% em janeiro. Em comparação ao 1º trimestre de 2022 houve elevação de quase 20% no número de registros.
“Com o resultado de março o indicador somou nove altas consecutivas na comparação mensal e isso mostra que as famílias têm tido muitas dificuldades para manter as contas em dia. Apesar da renda real apresentar agora uma tendência positiva, o desemprego tem aumentado. O comprometimento da renda e o endividamento vinham caindo aos poucos, mas ainda são muitos altos diante de um quadro de juros elevados. Mas é importante lembrar também que em março do ano passado a comparação interanual havia sido negativa, ou seja, esse menor crescimento de agora foi sobre uma base mais fraca de comparação. A desaceleração que é esperada para este ano ainda não foi vista, mas deve começar a aparecer,” avalia Flávio Calife, economista da Boa Vista.
Essa perda de ritmo ainda não surtiu efeito na curva de longo prazo do indicador, medida pela variação acumulada em 12 meses, que passou de 19,9% em dezembro de 2022 para 22,4% ao final de março de 2023, mas a expectativa ainda é de desaceleração deste número ao longo do ano corrente. Já o Indicador de Recuperação de Crédito da Boa Vista avançou 1,5% na comparação mensal, mesmo resultado do mês anterior, e encerrou o 1º trimestre com elevação de 0,9%, de acordo com os dados dessazonalizados. O indicador avançou 15,1% em relação ao mês de março do ano passado e acumulou alta de 18,4% em comparação aos três primeiros meses de 2022. A curva de longo prazo do indicador também acelerou neste período.
“A dinâmica do indicador de recuperação tem sido muito parecida com a do indicador de registros e também é esperada uma desaceleração desse número ao longo do ano. Naturalmente, ao mesmo tempo em que os registros aumentavam as pessoas buscavam resolver de alguma forma suas pendências para não ficarem com alguma restrição vinculada ao CPF. Isso, essa desaceleração, talvez possa mudar dependendo de como avançar o programa federal de renegociação de dívidas. Mesmo assim, é importante ressaltar que a recuperação de crédito decorrente do programa seria mais sustentável se fosse acompanhada de uma melhora no cenário macroeconômico, algo que, por ora, ainda está meio fora do radar”, finaliza o economista da Boa Vista.
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