Período de incertezas, medos, aflições e um misto de depressão e ansiedade aproximaram as pessoas da espiritualidade. Pelo menos, é o que aponta uma pesquisa feita pelo DataFolha em 2020. Dos entrevistados, 82% afirmaram ter meditado durante a pandemia e quase metade deles (38%) afirmam que pretendem incluir a prática no dia a dia. Rodrigo Moraes é teólogo e explica que a busca por respostas e a presença de representantes fora do meio secular, são os grandes responsáveis por esse aumento.
Segundo o especialista, a pandemia nos tirou da zona de conforto em muitos aspectos, e colocou na realidade a possibilidade da morte todos os dias. E talvez seja exatamente o medo da morte que fez com que as pessoas repensassem como vivem em sociedade. “No momento mais intenso da pandemia, me lembro que um amigo me ligou totalmente desesperado, ele havia dedicado a vida toda para construir um restaurante, e estava em pleno sucesso quando tudo parou,” conta Rodrigo Moraes.
“Recordo-me perfeitamente do tom da sua voz chorosa me dizendo: Meu restaurante faliu, eu perdi tudo, e não sei mais o que fazer. Eu estava ciente de que isso não era uma exclusividade dele, e mesmo me compadecendo da dor de um amigo, eu disse a ele: O problema na verdade é o que você estava chamando de tudo. Nós aprendemos a chamar de ‘tudo’ algo que é tão frágil que pode se desfazer a qualquer momento, e como consequência, vemos toda a nossa vida desmoronar,” revela.
O teólogo afirma que quando as situações fogem do controle, a busca por respostas no mundo espiritual aumenta. “Então a pandemia nos despertou para buscarmos por um propósito de vida que é mais consistente e que não se desfaz facilmente diante de nós. Acredito que isso conduziu os crescentes indicadores sobre fé, religião e espiritualidade. Ninguém procura por Deus quando está tudo bem, assim como ninguém procura por um mecânico quando o carro está funcionando. É na angústia de eventos incontroláveis que buscamos por Deus,” resume.
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