A Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef), em parceria com a Coordenadoria da Infância e da Juventude (Coinj) do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, deu início, nesta segunda-feira (27/6), ao webinário interinstitucional “Saúde mental de crianças e adolescentes e a relação com as políticas públicas de assistência social, educação e saúde”. O evento virtual, que tem a participação de membros do Poder Judiciário, Ministério Público e Poder Executivo Estadual e Municipal, tem sequência na terça-feira (28).
A iniciativa tem como objetivo relacionar a saúde mental de crianças e adolescentes com as políticas públicas de assistência social, educação e saúde, por meio do compartilhamento de reflexões e conhecimentos. Ao abrir o webinário, a superintendente da Coinj, desembargadora Valéria Rodrigues Queiroz, afirmou que o tema é sensível e que crianças e adolescentes portadores de transtorno mental não têm recebido tratamento adequado do poder público. Normalmente, são levados para Centros de Internação, sem acompanhamento. Ela disse acreditar, porém, que esse quadro possa ser alterado em breve.
O psiquiatra e vice-diretor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rossano Cabral Lima, abordou o tema “Os determinantes sociais e o impacto na saúde mental de crianças e adolescentes: contextualização, diferença entre transtorno e doença”. Ele afirmou que estudos sobre transtornos mentais de crianças e adolescentes passaram a ter visibilidade a partir do início do século XXI. Também ressaltou que problemas derivados de tais transtornos são comuns e podem causar limitação e sofrimento e repercutir negativamente na vida adulta.
Nesse cenário, ele ressaltou que grupos vulneráveis são mais impactados por problemas que acarretam déficit intelectual, desnutrição grave, doenças crônicas e uso de álcool e drogas. “Esses fatores interagem com conflitos familiares, pais com transtornos mentais, pais adolescentes, desemprego, criação em institutos privados ou públicos”, acrescentou. Rossano Cabral disse ainda que, para o diagnóstico de criança ou adolescente com transtorno mental, deve-se levar em consideração a relação com o meio em que vive (família, escola e demais espaços que frequenta).
“Os determinantes sociais e o impacto na saúde mental de crianças e adolescentes: contextualização, diferença entre transtorno e doença” foi o assunto abordado pela pesquisadora Fernanda Serpeloni, do Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde da Fiocruz, que trabalha com foco no atendimento a pacientes que sofrem traumas e não recebem tratamento adequado. Na maioria dos casos, segundo a pesquisadora, os profissionais utilizam a chamada terapia de exposição narrativa para tratar pessoas que passaram por eventos traumáticos. “A infância e a adolescência são períodos sensíveis”, ressaltou.
Segundo ela, as sequelas dos traumas são amplas e passam por sintomas intrusivos, como pesadelos, ver a si de forma negativa, sentimentos de culpa, medo, raiva, agressividade, vergonha, todos individualizados. Fernanda Serpeloni afirmou que há estudos que apontam uma associação entre violência e transtornos mentais. Para o diagnóstico dos casos, ela disse que são realizadas entrevistas avaliativas, o estudo da biografia em uma linha do tempo da criança ou do adolescente e o reprocessamento dos eventos em ordem cronológica.
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