Geriatra da FSFX orienta como lidar com as pessoas na terceira idade

Dra. Luciana Lana. Fonte: FSFX

A convivência com pessoas na terceira idade para muitas famílias pode envolver desafios emocionais, especialmente quando certos comportamentos são interpretados de forma errada. Segundo especialistas, as manifestações são pelo desejo por autonomia e respeito. O debate sobre como tratamos e nos relacionamos com os mais velhos ganha ainda mais relevância, num país que está envelhecendo rapidamente. A médica oncologista, pós-graduada em geriatria da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), Dra. Luciana Lana, orienta como levar a relação com naturalidade.

“É muito comum ouvirmos no consultório que o idoso está agressivo, não aceita ajuda, não quer mudar certos hábitos. O que está por trás disso é o medo de perder o controle sobre a própria vida. Ele não quer que decidam tudo: o que vai comer, onde vai morar, se vai ou não parar de dirigir. Isso tudo, quando imposto, gera frustração, tristeza e, muitas vezes, reações duras. Sempre teve personalidade forte, foi quem guiou a família. E, de repente, esperam que ela se torne submissa, dócil, apenas porque envelheceu. Isso não é justo,” indica a especialista da FSFX.

Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil já soma mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa cerca de 15% da população. Ou seja, a convivência está cada ano mais comum e deve ser levada com tranquilidade, por ser inevitável. A projeção é que, até 2030, o número de idosos ultrapasse o de crianças e adolescentes de até 14 anos. Em 2050, um em cada três brasileiros será idoso. O retrato do país está mudando e, com ele, a forma de encarar o envelhecimento também precisa mudar.

“O idoso é quem é só porque os anos passaram. O que chamam de teimosia é, muitas vezes, resistência, é defesa da própria identidade. Muitas famílias, por medo ou pressa, tomam atitudes como retirar a chave do carro, contratar um cuidador ou decidir a mudança de casa sem consultar o idoso. Isso pode parecer proteção, mas, na prática, é uma forma de exclusão. Se ele é lúcido, se não apresenta sinais de demência, ele precisa participar dessas decisões. Diálogo, empatia e escuta são fundamentais para manter o vínculo afetivo e preservar a dignidade”, orienta.

A médica lembra ainda que é preciso considerar o contexto emocional e afetivo do idoso, que nem sempre encontra na família o espaço que merece. “Na cultura ocidental, infelizmente, o idoso ainda é visto por muitos como alguém ultrapassado, que deve ser deixado de lado. Já no Oriente, ele é respeitado como fonte de sabedoria e consultado nas decisões da família. Isso faz toda a diferença. Aqui, perdemos muito ao ignorar a vivência, a experiência e o conhecimento acumulado por essas pessoas”, destaca. O convívio com os jovens, especialmente netos, é dos caminhos mais eficazes para manter o idoso ativo e emocionalmente saudável.

“O avô, chamado para ensinar receitas, opinar na educação do neto ou aprender a usar um aplicativo, se sente necessário. O idoso se sente parte do mundo atual quando ensina, quando aprende, quando participa. Incentivar essa convivência, seja nas tarefas simples do dia a dia ou em momentos de lazer, fortalece os vínculos, melhora a autoestima e torna o envelhecer mais leve. Pode ser o início de um quadro de demência ou outra alteração cognitiva. A avaliação médica é indispensável para identificar o problema e começar o acompanhamento”, afirma Dra. Luciana Lana.

Para além dos cuidados com a saúde física e mental, Dra. Luciana defende que o afeto seja reconhecido como um pilar essencial do envelhecimento saudável. “Autonomia, independência e afeto”. São essas as três bases de um envelhecimento digno e feliz. O idoso que deu certo é aquele que continua decidindo sobre a própria vida, que consegue se movimentar com liberdade e que está cercado de amor, seja da família, do cônjuge, dos amigos ou dos netos. Afinal, se tudo der certo, também chegaremos lá. E esperamos, com razão, sermos ouvidos e respeitados.

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