Com dramaturgia do rabino Nilton Bonder e trilha original de Carlinhos Brown, montagem faz apresentações gratuitas em Itabira dias sete e oito de maio, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA).
Instituto Cultural Vale apresenta “Cura”, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, trazem a cia. Deborah Colker para espetáculo inédito em Itabira. O grupo dedicou seu tempo, nos últimos anos, a buscar uma cura. No caso, uma solução para a doença genética que seu neto possui, a epidermólise bolhosa. Dessa angústia pessoal nasceu o novo trabalho da Cia. de Dança Deborah Colker, um espetáculo que vai muito além do aspecto autobiográfico. “Cura” trata de ciência, da fé e da luta para superar e aceitar os nossos limites, do enfrentamento da discriminação e do preconceito.
Com dramaturgia do rabino Nilton Bonder e trilha original de Carlinhos Brown, “Cura” estreou em outubro de 2021, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, e passou por nove cidades, com um total de 48 apresentações, e um público total de 50 mil pessoas. A turnê de 2022 iniciou com temporada no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, entre 27 de janeiro e 20 de fevereiro, com grande sucesso. A montagem chega a Itabira, no sábado (7) e no domingo (8), às 20h, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), com entrada gratuita.
Deborah Colker concebeu o projeto em 2017, mas foi no ano seguinte, com a morte de Stephen Hawking, que encontrou o conceito. Embora acometido por uma doença degenerativa, a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), o cientista britânico viveu até os 76 anos e se tornou um dos nomes mais importantes da história da física. Deborah percebeu que há outras formas de cura além das que a medicina possibilita. “Quando foi diagnosticado, os médicos deram a Hawking três anos de vida. Ele viveu mais 50, criativos e iluminados. Entendi o que é a cura do que não tem cura”, conta.
A estreia de “Cura” aconteceria em Londres em 2020, mas a pandemia não permitiu. “A pandemia me fez ter certeza de que não era apenas da doença física que eu queria falar. A cura que eu quero não se dá com vacina”, afirma Deborah. Deborah diz que procurou preservar a alegria necessária à vida. Um ingrediente para isso foi a semana que passou em Moçambique durante a preparação, quando conheceu pessoas que não perdiam a vontade de viver, apesar das muitas dificuldades. “Fui procurar a cura e encontrei a alegria”, explica.
Dentre tantas contribuições, ele ressaltou que “pedir é curar”, ideia que gerou uma cena. Também apontou que “a grande cura é a morte”, o que motivou uma coreografia com dois bailarinos dançando ao som de “You want it darker”, de Leonard Cohen. “O espetáculo apresenta todos os recursos imunitários e humanitários em aliança pela cura. A ciência, a fé, a solidariedade e a ancestralidade são o coquetel de cura do que não tem cura. Concebido antes desta pandemia, o título não é um ‘conceito’, mas um grito”, afirma Bonder.
Carlinhos Brown foi convidado, inicialmente, para compor apenas o tema de Obaluê, mas acabou criando praticamente toda a trilha, inclusive a canção inicial, dos versos “Traga meu sorriso para dentro” e “Sou mais forte do que a minha dor”. “Eu pensei: isso é um chamado, não é uma trilha normal. É um trabalho muito mais profundo do que ‘Carlinhos está fazendo uma trilha’, diz o músico, que canta em português, ioruba e até em aramaico. Os 14 bailarinos também cantam, em hebraico e em línguas africanas, inédito em 29 anos da companhia.
Fundador da companhia ao lado de Deborah Colker, o diretor executivo João Elias vê em “Cura” um passo ainda maior que o dado pela coreógrafa no trabalho anterior, “Cão sem plumas” (2017), baseado no poema de João Cabral de Melo Neto. “Quando começou a coreografar, Deborah era mais abstrata, formal. Depois, passou a contar histórias, aprimorar dramaturgias. “Cão sem plumas” já era um espetáculo visceral, emocionante. “Cura” é ainda mais, mostra um grande amadurecimento”, analisa o diretor.
O cenógrafo e diretor de arte Gringo Cardia é outro que destaca a importância de “Cura” para a artista. “Deborah era toda ciência. Passou por um crescimento espiritual. Foi conversar com Deus neste espetáculo”, afirma Gringo Cardia, que assina as duas rampas que dão aos movimentos dos bailarinos a sensação de desequilíbrio, e as caixas que, entre várias funções, formam um muro. “O muro passa a imagem de um grande obstáculo, mas ele se divide em vários pedaços. Então, é possível atravessá-lo. É como a gente faz nas nossas vidas”, diz Gringo.
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